sexta-feira, 11 de março de 2011

Complexo de Cinderela


Quem nunca ouviu a bela história da Cinderela? E qual menina, ou mulher, nunca sonhou em ser uma princesa como ela?
Esse sonho de ser uma princesa, amada, com uma vida aparentemente perfeita é tão comum que acabou se tornando em muitos casos um complexo, conhecido como “Complexo de Cinderela”.
Algumas pessoas acreditam que o Complexo de Cinderela seja um efeito colateral de quem assiste novelas, lê muitos romances, e acaba por fazer exigências em excesso quando se trata de amor, pois acredita que vai achar a sua cara metade, a tampa da sua panela, o seu príncipe encantado. Dentro disso, não podemos dizer que a culpa seja do Silvio de Abreu, Manoel Carlos ou do fabricante da Barbie, mas sim que seja algo estrutural.
O ser humano é o ser da falta. Um ser incompleto em todos os aspectos, inclusive o afetivo, porém todos nós crescemos pensando e buscando alguém/algo que nos completará.
Essa busca já se inicia na infância, quando fantasiamos, por exemplo, que o nascimento de um irmão suprirá essa falta. Depois buscamos um amor com quem desejamos “viver a vida toda”. “Viver a vida toda? Bem não era bem esse, e nem esse, e nem aquele!” E por ai vai... pulando de amor em amor, lamentação em lamentação, gerando desta forma uma queixa eterna.
É comum ouvir pessoas dizendo - “Ah, mas nada é perfeito!” – sempre se lamentando com o que possuem. 
A felicidade não é o simples fato de se conformar com o pouco que tem. Ser feliz é coisa de outra ordem. Uma forma de felicidade é saber, de fato, que nada é perfeito. É ouvir o que dizemos. É nos levarmos a sério sem perder a leveza.
A paixão, nada mais é do que um convite ao outro para atingir a completude, a perfeição, sempre inalcançados quando sozinhos. Para ser mais exato, uma perfeição que sequer existe. Desta forma, a paixão se torna também, um convite à frustração.
Quando nos apaixonamos, colocamos no outro tudo aquilo que supomos nos completar, deixamos o outro completo. Como essa completude não existe, um dia esse outro acaba se despedaçando, ou melhor, se mostra como ele sempre foi. E aquilo que deveria ser óbvio, acaba virando novidade.
Neste ponto faz-se necessário elaborar o luto pela morte daquele amado idealizado, e a partir da desconstrução ou ideal do outro, ou pelo menos parte dele, permitir que o amor (verdadeiro) nasça do luto.O mais indicado é confrontar com a verdade, ou seja, identificar os sentimentos, encarar o conflito e assim, reconhecer o desejo de ser protegida e cuidada, mas reconhecendo ainda mais sua força e consciência do que é realmente capaz de realizar. Mesmo as mulheres que dizem sentir-se bem cuidando de si mesmas, justificando que não precisam de ninguém, podem apenas estar mascarando seus mais profundos sentimentos. Afinal, quem não deseja que alguém cuide de nós? Quem não deseja colo? Ou seja, todas nós somos um pouco Cinderela. Mas nem por isso devemos permitir abrir mão de nossos sonhos, por mais esquecidos que estejam.
Bem, então temos dentro de nós uma cinderela e para isso vamos beijando tudo quanto é sapo em busca de alguém lindo, educado, de boa família e, de quebra, rico (porque nunca ouvi ninguém dizer que sonha com um feio, mal-educado e pobre, você já?), ou nos iludindo com sapos disfarçados mesmo que para isso tenhamos que nos sujeitar a uma vida medíocre e infeliz.
Acredito que a falta de conhecimento de nós mesmas nos leve a passar por inúmeras situações que não merecemos. Queremos tanto achar um príncipe perfeito (e existe?) que acabamos por deixar que a Cinderela na verdade seja a gata borralheira pra sempre. Ali, ao lado, do "príncipe" e, talvez, infeliz para sempre.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Saber envelhecer


Tudo começa com um simples cabelo branco, mas aos poucos, eles vão se tornando cada vez mais abundantes, as rugas insistem em aparecer, e a saúde já não é a mesma, com isso surge a necessidade de se aposentar. Logo, um amigo querido ou alguém da família falece, enfim a vida mudou, o tempo passou e nada mais é da mesma forma. Se você se identificou com isso, parabéns entrou na terceira idade, agora, se isso ainda não faz parte do seu contexto atual de vida, se prepare, pois querendo ou não, todos nós iremos envelhecer um dia, e passaremos por todo esse processo.
O idoso passou parte da sua vida desempenhando diversos papéis como filho, estudante, amigo, pai, profissional, além de inúmeros outros, e nessa fase encontra-se sem essas ocupações, gerando deste modo um sentimento de inutilidade, esquecendo-se de que envelhecer é a própria existência se constituindo. Enquanto envelhecemos, vamos sendo, vamos ENVELHE-SENDO e na medida em que somos, envelhecemos.
É muito comum encontramos nas falas de idosos expressões como, medo da morte, de ficar sozinho, de ser um peso para seus familiares, enfim, vivenciam o medo em suas vidas o tempo todo. Porém, esses medos precisam ser desmistificados, elaborados, para que desta forma possam enfrentá-los. 
Muitas vezes o idoso lança mão de mecanismos como a negação para lidar com a angústia, tentando adaptar-se à nova situação que lhe parece insuportável, outras vezes tem consciência de suas perdas, do seu conflito, da sua dor e vai restringindo seu campo psicológico e de ação, isolando-se, embalado por sua solidão, deixando de viver situações novas que poderiam ser prazerosas e construtivas. Desta forma, ele acaba se afastando dos contatos sociais, festas, reuniões, relacionamentos afetivos e sexuais, identificando-se com o seu suposto agressor, a velhice.
Saber usufruir de todos os momentos de lazer, a interação social e o desenvolvimento de hobbies e interesses diversos colaboram para que a mente mantenha-se ativa e saudável. Deste modo, para manter uma vida saudável na terceira idade, é necessário que o idoso dedique-se a atividades que lhe dêem prazer, como uma pintura, exercícios físicos, uma visita a um velho amigo, uma viajem, enfim, algo que lhe proporcione um bem-estar e lhe traga uma motivação para aproveitar essa nova fase.
Se já não possui a vitalidade da juventude, por outro lado tem o conhecimento adquirido através das experiências ao longo de toda uma vida. A partilha desses conhecimentos com as novas gerações proporciona ao idoso a possibilidade de manter-se  integrado à sociedade. Esta integração é de suma importância para o idoso, uma vez que um de seus maiores prazeres consiste em relatar fatos acontecidos em sua vida e perceber que as pessoas que o cercam dão-lhe a atenção devida.
Todos nós envelheceremos. Apenas aqueles que foram retirados prematuramente da vida não o farão. O medo de envelhecer está presente para todos, como a dor de existir. Mas podemos lidar melhor com ele, podemos aprender. Experimentando a serenidade interior com o que temos, a gratidão pelas coisas que nos cercam e nos propiciam alegria e bem-estar, valorizando as emoções positivas que são benéficas.
Viver implica em manter-se num processo de aprendizagem eterno, e como diz a minha avó: "Quando eu morrer, não terei aprendido nem metade do que eu gostaria de saber..."