terça-feira, 5 de julho de 2011

Transtorno do Pânico/Síndrome do Pânico

O que é o transtorno do pânico?

O transtorno do pânico não se trata de uma "fraqueza emocional" como muitas pessoas imaginam. É uma doença grave e incapacitante que traz sérios danos à vida de seus portadores.


Ocorre sob a forma de crises súbitas e inesperadas, que podem incluir os seguintes sintomas:

 Dispnéia ou sensação de asfixia
 Vertigem, sentimentos de instabilidade ou sensação de desmaio
 Palpitações ou taquicardia
 Tremor ou abalos
 Sudorese (suor excessivo)
 Sensação de sufocamento
 Náuseas ou desconforto abdominal (alteração intestinal)
 Despersonalização ou distorções de percepção da realidade
 Anestesia ou formigamento
 Ondas de calor ou calafrios
 Dor ou desconforto no peito
 Sensação de morte iminente
 Medo intenso de enlouquecer ou cometer ato descontrolado


Por que ocorre?

O cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação que ocorre entre os neurônios (células do sistema nervoso). Estas comunicações formam mensagens que irão determinar a execução de todas as atividades físicas e mentais de nosso organismo (ex.: andar, pensar, memorizar, etc.).

Um desequilíbrio na produção destes neurotransmissores pode levar algumas partes do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos. Isto é exatamente o que ocorre em uma crise de pânico: existe uma informação incorreta alertando e preparando o organismo para uma ameaça ou perigo que na realidade não existe. É como se tivéssemos um despertador que passa a tocar o alarme em horas totalmente inapropriadas. No caso do transtorno do pânico os neurotransmissores que se encontram em desequilíbrio são: a serotonina e a noradrenalina.


O transtorno do pânico é um problema sério?

O transtorno do pânico é considerado um problema sério de saúde, que acomete 1,5% a 3% da população mundial. No caso das mulheres, os estudos revelam que elas apresentam duas a quatro vezes mais chances de ocorrências que os homens. Além disso, temos de destacar a significativa presença de uma propensão genética ao transtorno, uma vez que observamos, de forma nítida, maior incidência do transtorno entre pessoas cujas famílias possuem descrições de casos semelhantes.

Há muito que o transtorno do pânico deixou de ser um diagnóstico de exclusão. Hoje, mais do que nunca, há necessidade de um diagnóstico de certeza para tal entidade clínica.

As pessoas portadoras deste mal costumam fazer uma verdadeira "via-crucis" a diversos especialistas médicos (doctor shopping) e após uma quantidade exagerada de exames complementares recebem, muitas vezes, o patético diagnóstico do "NADA", o que aumenta sua insegurança e seu desespero.

Por vezes, esta situação dramática é reduzida a termos evasivos como: estafa, nervosismo, estresse, fraqueza emocional ou "problema de cabeça". Isto pode criar uma incorreta impressão de que não há um problema de fato para tal patologia.


Qual a população mais atingida?

Os portadores do transtorno do pânico, em sua maioria, são pessoas jovens (entre 15 e 30 anos de idade), que se encontram na plenitude de suas vidas profissionais, o que não exclui a ocorrência em qualquer faixa etária.

O perfil da personalidade das pessoas que sofrem do transtorno do pânico costuma apresentar aspectos em comum: geralmente são pessoas extremamente produtivas em nível profissional, costumam assumir uma carga excessiva de responsabilidade e afazeres, são bastante exigentes consigo mesmos, não convivem bem com erros ou imprevistos, têm tendência a se preocuparem excessivamente com problemas cotidianos etc. Esta forma de ser acaba por predispor estas pessoas a situações de estresse acentuado, fato este que pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro, desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e, consequentemente, o aparecimento do transtorno do pânico.

Outro fator importante no surgimento do transtorno do pânico é o fator hereditário (genético), uma vez que ele ocorre com maior frequência em familiares com história positiva para tal patologia.

Vale ressaltar, ainda, que alguns medicamentos como anfetaminas (usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy etc.) podem aumentar a atividade e o medo, promovendo alterações químicas que podem levar ao transtorno do pânico.


Existe tratamento para este tipo de problema?

Existe uma variedade de tratamentos para o transtorno do pânico. O mais importante neste aspecto é que se introduza um tratamento que vise restabelecer o equilíbrio bioquímico cerebral numa primeira etapa. Isto pode ser feito através de medicamentos seguros e que não produzam riscos de dependência física dos pacientes.

Numa segunda etapa temos que preparar o paciente para que ele possa enfrentar seus limites e as adversidades vitais de maneira menos estressante. Em última análise, trata-se de estabelecer junto com o paciente uma forma de viver onde se priorize a busca de sua harmonia e equilíbrio pessoal. Uma abordagem psicoterápica específica deverá ser realizada com esse objetivo.


Qual a probabilidade de cura?

O sucesso do tratamento está diretamente ligado ao engajamento do paciente com o mesmo. É importante que a pessoa que sofre de transtorno do pânico entenda todas as peculiaridades que envolvem este mal e queira fazer uma boa "aliança terapêutica" com seu médico, no sentido de juntos superarem todas as adversidades que poderão surgir na busca do equilíbrio pessoal.


O transtorno do pânico pode levar a morte?

Um ataque de pânico é um período inconfundível, de imenso medo ou temor, que atinge o ápice (pico) em dez minutos, e costuma se estender por um total de 40-50 minutos. Ele se constitui em uma das situações mais angustiantes que uma pessoa pode vivenciar.

Durante a crise o paciente não corre o risco de sofrer de um ataque cardíaco ou morrer, embora seja impossível para ele acreditar nisso no momento da mesma. Os prejuízos causados pelo transtorno do pânico modificam toda a existência do paciente, trazendo problemas nos seus relacionamentos interpessoais, principalmente os de caráter afetivo e profissional. Cônjuges, amigos e parentes não reconhecem mais a pessoa que antes se mostrava jovial, produtiva, destemida, ao se depararem com alguém dominado pelo medo.

A falta de diagnóstico precoce e tratamento adequado podem fazer com que, gradativamente, o medo e a ansiedade causados pelas crises tomem proporções tais, que seus portadores tornem-se incapacitados para dirigir, frequentar determinados locais (bancos, shoppings etc.) ou mesmo sair de casa. Esta situação de ostracismo forçado pode levar o paciente ao desespero e a pensar em suicídio como opção de acabar com todo esse sofrimento.

Matéria escrita por Ana Beatriz Barbosa Silva (médica psiquiatra e escritora)

 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Elogie do Jeito Certo

"Recentemente um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante[1]. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo. Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi elogiado quanto à inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta que você é!”, “Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!” ... e outros elogios à capacidade de cada criança.
O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto você se dedicou na tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”, “Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito bem!” ... e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança em si.
Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram obrigadas a cumprir a tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de consequência.
As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa. As crianças não queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.
A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais dizer que sou inteligente”. As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é o esforço que será elogiado. Nós sabemos de muitos casos de jovens considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles jovens “médios” obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram melhor em cada uma das disciplinas.
No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios frágeis, focados no ego de cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado.
Nossos filhos precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com medo... você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram... você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”. Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática” paterna, é incentivo real.
Por outro lado, elogiar superficialidades é uma tendência atual. “Que linda você é amor”, “acho você muito esperto meu filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.
Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam, pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas grandes e o verde de suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.
Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme e carinhosa".





Texto de MARCOS MEIER, mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante.
Seus textos encontram-se no site www.marcosmeier.com.br e seus livros no www.kapok.com.br.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Complexo de Cinderela


Quem nunca ouviu a bela história da Cinderela? E qual menina, ou mulher, nunca sonhou em ser uma princesa como ela?
Esse sonho de ser uma princesa, amada, com uma vida aparentemente perfeita é tão comum que acabou se tornando em muitos casos um complexo, conhecido como “Complexo de Cinderela”.
Algumas pessoas acreditam que o Complexo de Cinderela seja um efeito colateral de quem assiste novelas, lê muitos romances, e acaba por fazer exigências em excesso quando se trata de amor, pois acredita que vai achar a sua cara metade, a tampa da sua panela, o seu príncipe encantado. Dentro disso, não podemos dizer que a culpa seja do Silvio de Abreu, Manoel Carlos ou do fabricante da Barbie, mas sim que seja algo estrutural.
O ser humano é o ser da falta. Um ser incompleto em todos os aspectos, inclusive o afetivo, porém todos nós crescemos pensando e buscando alguém/algo que nos completará.
Essa busca já se inicia na infância, quando fantasiamos, por exemplo, que o nascimento de um irmão suprirá essa falta. Depois buscamos um amor com quem desejamos “viver a vida toda”. “Viver a vida toda? Bem não era bem esse, e nem esse, e nem aquele!” E por ai vai... pulando de amor em amor, lamentação em lamentação, gerando desta forma uma queixa eterna.
É comum ouvir pessoas dizendo - “Ah, mas nada é perfeito!” – sempre se lamentando com o que possuem. 
A felicidade não é o simples fato de se conformar com o pouco que tem. Ser feliz é coisa de outra ordem. Uma forma de felicidade é saber, de fato, que nada é perfeito. É ouvir o que dizemos. É nos levarmos a sério sem perder a leveza.
A paixão, nada mais é do que um convite ao outro para atingir a completude, a perfeição, sempre inalcançados quando sozinhos. Para ser mais exato, uma perfeição que sequer existe. Desta forma, a paixão se torna também, um convite à frustração.
Quando nos apaixonamos, colocamos no outro tudo aquilo que supomos nos completar, deixamos o outro completo. Como essa completude não existe, um dia esse outro acaba se despedaçando, ou melhor, se mostra como ele sempre foi. E aquilo que deveria ser óbvio, acaba virando novidade.
Neste ponto faz-se necessário elaborar o luto pela morte daquele amado idealizado, e a partir da desconstrução ou ideal do outro, ou pelo menos parte dele, permitir que o amor (verdadeiro) nasça do luto.O mais indicado é confrontar com a verdade, ou seja, identificar os sentimentos, encarar o conflito e assim, reconhecer o desejo de ser protegida e cuidada, mas reconhecendo ainda mais sua força e consciência do que é realmente capaz de realizar. Mesmo as mulheres que dizem sentir-se bem cuidando de si mesmas, justificando que não precisam de ninguém, podem apenas estar mascarando seus mais profundos sentimentos. Afinal, quem não deseja que alguém cuide de nós? Quem não deseja colo? Ou seja, todas nós somos um pouco Cinderela. Mas nem por isso devemos permitir abrir mão de nossos sonhos, por mais esquecidos que estejam.
Bem, então temos dentro de nós uma cinderela e para isso vamos beijando tudo quanto é sapo em busca de alguém lindo, educado, de boa família e, de quebra, rico (porque nunca ouvi ninguém dizer que sonha com um feio, mal-educado e pobre, você já?), ou nos iludindo com sapos disfarçados mesmo que para isso tenhamos que nos sujeitar a uma vida medíocre e infeliz.
Acredito que a falta de conhecimento de nós mesmas nos leve a passar por inúmeras situações que não merecemos. Queremos tanto achar um príncipe perfeito (e existe?) que acabamos por deixar que a Cinderela na verdade seja a gata borralheira pra sempre. Ali, ao lado, do "príncipe" e, talvez, infeliz para sempre.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Saber envelhecer


Tudo começa com um simples cabelo branco, mas aos poucos, eles vão se tornando cada vez mais abundantes, as rugas insistem em aparecer, e a saúde já não é a mesma, com isso surge a necessidade de se aposentar. Logo, um amigo querido ou alguém da família falece, enfim a vida mudou, o tempo passou e nada mais é da mesma forma. Se você se identificou com isso, parabéns entrou na terceira idade, agora, se isso ainda não faz parte do seu contexto atual de vida, se prepare, pois querendo ou não, todos nós iremos envelhecer um dia, e passaremos por todo esse processo.
O idoso passou parte da sua vida desempenhando diversos papéis como filho, estudante, amigo, pai, profissional, além de inúmeros outros, e nessa fase encontra-se sem essas ocupações, gerando deste modo um sentimento de inutilidade, esquecendo-se de que envelhecer é a própria existência se constituindo. Enquanto envelhecemos, vamos sendo, vamos ENVELHE-SENDO e na medida em que somos, envelhecemos.
É muito comum encontramos nas falas de idosos expressões como, medo da morte, de ficar sozinho, de ser um peso para seus familiares, enfim, vivenciam o medo em suas vidas o tempo todo. Porém, esses medos precisam ser desmistificados, elaborados, para que desta forma possam enfrentá-los. 
Muitas vezes o idoso lança mão de mecanismos como a negação para lidar com a angústia, tentando adaptar-se à nova situação que lhe parece insuportável, outras vezes tem consciência de suas perdas, do seu conflito, da sua dor e vai restringindo seu campo psicológico e de ação, isolando-se, embalado por sua solidão, deixando de viver situações novas que poderiam ser prazerosas e construtivas. Desta forma, ele acaba se afastando dos contatos sociais, festas, reuniões, relacionamentos afetivos e sexuais, identificando-se com o seu suposto agressor, a velhice.
Saber usufruir de todos os momentos de lazer, a interação social e o desenvolvimento de hobbies e interesses diversos colaboram para que a mente mantenha-se ativa e saudável. Deste modo, para manter uma vida saudável na terceira idade, é necessário que o idoso dedique-se a atividades que lhe dêem prazer, como uma pintura, exercícios físicos, uma visita a um velho amigo, uma viajem, enfim, algo que lhe proporcione um bem-estar e lhe traga uma motivação para aproveitar essa nova fase.
Se já não possui a vitalidade da juventude, por outro lado tem o conhecimento adquirido através das experiências ao longo de toda uma vida. A partilha desses conhecimentos com as novas gerações proporciona ao idoso a possibilidade de manter-se  integrado à sociedade. Esta integração é de suma importância para o idoso, uma vez que um de seus maiores prazeres consiste em relatar fatos acontecidos em sua vida e perceber que as pessoas que o cercam dão-lhe a atenção devida.
Todos nós envelheceremos. Apenas aqueles que foram retirados prematuramente da vida não o farão. O medo de envelhecer está presente para todos, como a dor de existir. Mas podemos lidar melhor com ele, podemos aprender. Experimentando a serenidade interior com o que temos, a gratidão pelas coisas que nos cercam e nos propiciam alegria e bem-estar, valorizando as emoções positivas que são benéficas.
Viver implica em manter-se num processo de aprendizagem eterno, e como diz a minha avó: "Quando eu morrer, não terei aprendido nem metade do que eu gostaria de saber..."

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

LEI, PALMADA OU DIÁLOGO?

“Palmada no passado era método pedagógico e, portanto, pais e professores tinham direito legítimo de uso. Mas os estudos evoluíram e hoje sabemos que castigo físico não garante aprendizagem. Pode até parecer que garante porque, como ninguém gosta de apanhar, inibe comportamentos inadequados mais rapidamente. Na ausência do agressor, porém, a atitude criticada reaparece. O que revela que não houve aprendizagem de fato. Portanto, a discussão não deve ser se bater deve ser proibido por lei, mas de que forma conscientizar quem educa - em todas as instâncias - de que, com objetivos claros, segurança e afeto, se conseguem melhores resultados do que com agressão física.

Se parece que nossos antepassados conseguiram mais com os jovens do que se consegue hoje, seguramente não foi porque nossos avôs batiam nos filhos... O que ocorreu foi que uma série de fatores se conjugou nas últimas décadas, tornando educar um desafio gigantesco: a influência das novas mídias exacerbando o consumismo; a corrupção (e a impunidade) por parte dos que deveriam dar o exemplo aos mais jovens; a desestruturação da família; a ausência de ambos os pais em casa são apenas alguns deles. Com isso, os pais acabaram perdendo o foco do que é realmente importante. Muitos hoje consideram sua tarefa principal “fazer o filho feliz”, o que acaba resultando em apenas satisfazer desejos e vontades. Anteriormente era “fazer dos filhos, homens de bem”, significando priorizar fundamentos éticos na educação. E isso se alcança com muito diálogo, ensinando a pensar e a não se deixar conduzir por mídias ou grupos. No entanto, é tarefa quase inexequível para quem não tem certeza do que é prioritário.

Em vez de novas leis, o que a sociedade precisa é realocar a ética – para si e para as novas gerações; também fundamental é resgatar conceitos deturpados. Afinal, autoridade não é sinônimo de autoritarismo; democracia e liberdade não significam fazer apenas o que se tem vontade. Como se ensina isso: com lei ou com palmada? Nem com um, nem com outro.

A nossa é a geração do diálogo, a que acreditou que a melhor forma de comunicação interpessoal se faz através da discussão e da troca de idéias. Mas será que, na prática, o diálogo está efetivamente acontecendo? Pais e filhos, professores e alunos, colegas de trabalho estão verdadeiramente sabendo ouvir, falar e reivindicar? Infelizmente, não. São muitos os que não sabem dialogar. Alguns usam o diálogo como bandeiras para alcançarem o que desejam e, em seguida, se mostram autoritários, fazendo com isso grassar a desesperança e a descrença entre os jovens. Outros o abandonam à primeira dificuldade. Entender-se de verdade com o outro, mantendo a ética e o equilíbrio frente a opiniões e objetivos contrários aos seus, é tarefa difícil - e raros são os que dominam tal competência.

Quem é autoridade e deseja exercê-la de forma a congregar, alcançar adesão e favorecer a afetividade - seja pai, chefe ou professor -, deve utilizar o diálogo como forma de busca de entendimento. Todos – líderes e liderados – precisamos estar cientes, porém, de que nem sempre seremos atendidos em tudo. É o que torna o diálogo tão difícil: a expectativa utópica de que, através dele, todos os anseios se concretizem. Ocorre, porém que entendimento não é atendimento. Não se pode supor que só houve diálogo quando atendem a tudo o que desejamos; diálogo é troca, análise, decisão; não é imposição.

No diálogo verdadeiro não há vencedores nem vencidos, há, isso sim, pessoas ou grupos que se ouvem sem pré-julgamentos; há respeito recíproco e intenção concreta de analisar argumentos e reivindicações. E, mais importante: há, ao final, aceitação das decisões tomadas pelo grupo ou pela autoridade - ainda que nem sempre tais decisões contemplem, no todo ou em parte, aquilo que todos e cada um desejavam”.


Referência bibliográfica:
Texto na íntegra de Tânia Zagury